Os traumas deixam marcas para toda a vida, como cicatrizes, algumas cicatrizadas, outras que doem quando se toca, outras que ficam como aquela dor fantasma que só aparece muito de vez em quando e aquelas mais doloridas.
Eu tenho muitas.
Devido ao bullying, hoje com 32 anos, quando ainda passo por um grupo de rapazes adolescentes, a minha respiração fica entrecortada, o meu passo é cauteloso, o meu coração dispara.
De tanto assistir a violência, a primeira vez que um namorado ameaçou de me bater, tive o meu primeiro ataque de pânico, achei que ia morrer com falta de ar.
Quando o assunto sobre abuso sexual aparece, outrora ficava a chorar compulsivamente, a soluçar… embora já não aconteça tanto, por já estar mais resolvido, por vezes as lágrimas ainda rolam.
Se me agarram os dois braços ao mesmo tempo, eu paraliso por alguns segundos.
Se falam alto perto de mim sem eu estar a contar, tremo involuntariamente.
O nunca conseguir sentir-me verdadeiramente amado, o síndrome do abandono.
A ansiedade, o pânico, a fobia social, a depressão, são consequências desses vários traumas, dessas cicatrizes.
É se vítima toda a vida, essas pessoas não só acabam com o nosso ser com esses actos, como fazem com que toda uma vida tenhamos que levar com as sequelas dessas marcas.
Estas são algumas minhas… que são despertadas pelos chamados “gatilhos”, que podem aparecer do nada ou por alguma razão em específico.
Hoje com a maturidade, com tudo o que passei, a dor, a solidão, a aprendizagem, o trabalho no amor próprio, fez-me entender o que era a responsabilidade afectiva, não só sou responsável pelos meus actos como também no que eles podem inferir no outro. Pena que a grande maioria acho que nunca chega lá, nunca faz o seu “mea culpa”.
Sou uma pessoa bastante empática, são várias as pessoas que já recorreram a mim para partilhar as suas histórias, as suas lutas e eu sinto sempre, que se com as minhas partilhas houver alguém que se sinta compreendido, já terá valido a pena.